Estudo mapeia 2.658 tipos de câncer e pode revolucionar tratamento da doença
Um grupo de mais de mil cientistas montou a base de dados mais completa já compilada até hoje sobre o câncer.
Segundo eles, o câncer é como um quebra-cabeças de 100 mil peças e ainda faltavam “99% dessas peças”.
Os novos estudos, publicados na revista científica “Nature”, compõem um quadro quase completo de todos os tipos de câncer.
As informações podem ajudar a criar tratamentos individualizados para os tumores específicos de cada paciente e a encontrar novas formas de detectar o câncer precocemente.
O código genético completo de 2.658 tipos de câncer foi analisado pelo grupo de cientistas, reunidos no Pan-Cancer Analysis of Whole Genomes Consortium (Consórcio para Análise dos Genomas Completos de Todos os Cânceres, em tradução livre).
O 1%
Um câncer é uma versão corrompida de nossas próprias células saudáveis, que sofrem mutações no DNA e ocasionalmente passam a crescer e se multiplicar sem controle.
Grande parte de nosso entendimento desse processo vem de conjuntos de instruções genéticas para a fabricação das proteínas do nosso corpo.
“Isso representava somente 1% de todo o genoma (do câncer)”, afirma o pesquisador Lincoln Stein, do Instituto de Pesquisas sobre o Câncer de Ontario, no Canadá.
Segundo ele, os médicos ficavam “no escuro” ao tratar cerca de um terço dos pacientes, já que era impossível dizer por que suas células se tornaram cancerosas.
A descoberta dos 99% restantes demandou o trabalho de equipes de cientistas em 37 países ao longo de mais de uma década.
O trabalho, descrito em 22 artigos científicos, mostra que o câncer é uma doença extremamente complexa, com milhares de combinações de mutações diferentes capazes de causá-lo.
‘Mutações condutoras’
O projeto descobriu que os cânceres das pessoas contêm, na média, entre quatro e cinco mutações fundamentais que levam ao crescimento celular anormal.
Esses são potenciais pontos-fracos do câncer, que podem ser explorados com tratamentos que ataquem essas “mutações condutoras”.
“Em última instância, o que queremos fazer é usar essas tencologias para identificar tratamentos sob medida para cada paciente”, disse Peter Campbell, do britânico Instituto Wellcome Sanger.
Apesar disso, 5% dos tipos de câncer parecem não ter nenhuma mutação condutora, o que mostra que ainda há muito trabalho pela frente.
Os pesquisadores também desenvolveram uma maneira de datar as mutações. Eles mostraram que mais de um quinto delas havia ocorrido anos ou mesmo décadas antes de o câncer ser detectado.
“Nós desenvolvemos as primeiras linhas do tempo de mutações genéticas relacionadas ao espectro de tipos de câncer”, disse Peter Van Loo, do Instituto Francis Crick, no Reino Unido.
“A revelação desses padrões significa que deveria ser possível desenvolver novos testes para diagnósticos, para detectar sinais de câncer muito mais precocemente”, afirmou.
O desafio, agora, será identificar também quais dessas mutações se transformarão num câncer e quais poderiam ser ignoradas com segurança.